Que caminho a música percorre no nosso cérebro? Como escolhemos o que queremos ouvir?
Por que a música nos faz dançar ou nos emociona tanto? Quais os benefícios da música para nossa saúde? Essa são algumas das respostas que tentaremos abordar nesta conversa com a Dra. Cristina Pozzi que é neuropediatra há 25 anos e flautista amadora há 17 anos: “A música para mim, talvez como para a maioria das pessoas, começou bem cedo. Aos cinco anos, lembro-me de dedilhar um piano de parede, sentada ao colo da minha professora do jardim de infância e como isso foi determinante na minha relação com a música…” A música é a arte de organizar ou combinar os sons com todas as manifestações não verbais que modulam a linguagem falada como prosódia, entonação, timbre, ritmo, volume e sequência. É capaz de temperar a nossa vida emocional de forma transcultural, provocando emoções repletas de significados. Emoções essas que vão desde a mais pura sedução estética, passando por alegria, tristeza até o entretenimento do cotidiano que pode nos salvar da monotonia, aborrecimento ou depressão. A maioria das nossas respostas à musica são aprendidas, embora haja muitas respostas primitivas. O feto é capaz de perceber sons a partir do sexto mês de gestação e reconhece-lo quando reapresentado a este som no primeiro ano de vida manifestando reações motoras, expressões de alegria e de prazer. Toda experiência musical a que formos submetidos nos primeiros anos de vida servirão de base para nosso repertório e gosto musical, criando assim nossa memória.
Eu particularmente, aprecio a música popular brasileira, a música instrumental, étnica e clássica. A atividade mental de escutar a música é diferente da atividade física por exemplo, há uma ativação de diversas áreas cerebrais ao ouvirmos uma música, sendo que cada aspecto da música corresponde a determinada área. O caminho se inicia pelo sistema auditivo. No ouvido interno há uma coleção de células específicas, as células ciliadas, que conduzem este som, através de vias específicas, até o córtex cerebral, mais precisamente o lobo temporal. Neste lobo há uma representação distinta para cada aspecto da m´sucia, seja o timbre, a frequência, a melodia e o ritmo. Através de sinapses e caminhos específicos este som também ativa o sistema límbico que é o sistema responsável pelas emoções. A ativação deste sistema inunda o cérebro de neurotransmissores que serão responsáveis pelas emoções que sentimos, seja uma taquicardia, uma lágrima que escorre, uma alegria, uma vontade de sair pulando ou tristeza, a depender também da nossa memória musical. Não é a toa que identificamos músicas que se relacionam a cada momento/etapa da nossa vida e que nos remetem tão imediatamente a determinadas cenas. Frente a esta liberação de neurotransmissores, os efeitos sobre a nossa saúde são inúmeros, entre eles o relaxamento, prazer, alegria, alívio da dor. A educação musical, hoje uma disciplina da escola regular, está seguramente relaciona-se e facilita o aprendizado, criatividade, memória e movimento. Além disso, a música é uma forma de comunicação, de estabelecer vínculos e o próprio autoconhecimento.
Texto e video elaborados pela Dra Cristina Maria Pozzi / Clínica Glia