Diversos estudos têm constatado que o convívio com a música clássica potencializa a memória, a criatividade, o raciocínio espaço-temporal e a coordenação motora das crianças. Ao cultivar este hábito, elas ainda adquirem noções de disciplina, concentração e organização, que terão grande importância em sua vida adulta.
Há quem diga, inclusive, que este contato já pode começar durante a gravidez. A partir da 20ª semana o bebê já tem a capacidade de ouvir e a música pode afetar positivamente sua circulação, formação celular e desenvolvimento cerebral. Com seus ritmos compassados, os clássicos figuram entre os gêneros mais indicados para esta iniciação, pois auxiliam a gestante em seu relaxamento e reforçam a sensação de conforto.
Para quem já tem filhos, a introdução da música clássica no dia a dia também pode ser um desafio estimulante. Desde que o exercício ocorra de forma agradável e gradual e, principalmente, garantindo aos pequenos que façam suas próprias escolhas. Uma recomendação bastante recorrente entre especialistas é a associação da trilha às situações que já costumam entretê-los em seu cotidiano: durante as brincadeiras, nas datas festivas e reuniões familiares e ao contar histórias.
Tão presente nos dias de hoje, a tecnologia também pode ajudar pais e educadores a apresentarem às crianças, entre outras descobertas, o som dos instrumentos, o repertório sinfônico e os principais compositores. Este tipo de conteúdo está disponível em aplicativos como o My First Orchestra App, desenvolvido pela gravadora Naxos; o Music Superheroes, da Lisbon Labs, de Portugal; e o Tuhu Musical, da brasileira Baluarte.
Respaldo científico
O chamado “Efeito Mozart”, registrado pelo neurologista norte-americano Gordon Shaw, nos anos 1990, foi uma das teses que mais difundiu globalmente a relevância do tema. Ao mapear por meio de ressonâncias magnéticas o efeito das obras do compositor austríaco no cérebro humano, ele atestou o estímulo a áreas relacionadas aos pensamentos mais complexos. E concluiu: se isto ocorresse desde o início da atividade neural, as crianças poderiam ter benefícios por toda a vida.
A repercussão do estudo gerou episódios curiosos. Em 1998, por exemplo, o então governador do estado da Georgia (EUA), Zell Miller, distribuiu cerca de 100 mil CDs com gravações dedicadas ao “desenvolvimento cerebral de bebês a partir do poder da música”.
Compilado com o auxílio do tenor Michael McGuire, o álbum possuía obras de Georg Friedrich Händel, Antonio Vivaldi e, claro, Wolfgang Amadeus Mozart.
Vida escolar
Aplicada às metodologias de ensino, a música clássica tem gerado resultados igualmente interessantes, com foco em abordagens sensoriais. Tarefas como criar instrumentos a partir de materiais recicláveis, identificar emoções a partir de melodias e praticar expressão corporal ao som de peças sinfônicas contribuem com a evolução dos alunos, tanto individualmente como nas tarefas em grupo.
No Brasil, o aprendizado musical é visto hoje como determinante na melhora da qualidade de vida de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. O Mozarteum Brasileiro dedica atenção especial a esta questão. Desde 1981, realiza ações gratuitas em paralelo a sua tradicional programação de concertos e dança para públicos de diversas faixas etárias e sociais.
Outra frente do Mozarteum é a formação de jovens músicos e de plateias. A lista inclui matinês para crianças, concertos ao ar livre e aulas de iniciação musical para alunos da rede pública, além de palestras, academias de canto e masterclasses para jovens.
PARA LER AO SOM DE…
Aqui estão algumas das obras mais citadas em plataformas de streaming e publicações especializadas entre as capazes de despertar a atenção das crianças.
Em sua maioria curtas e melodiosas, elas sugerem emoções, interações através do movimento e conexões ao universo infantil por meio de personagens e temas populares.
- A Marcha de Radetzky, (Radetzky March), de Johan Strauss I.
- O Carnaval dos Animais, (Le Carnaval des Animaux), de Camille Saint-Säens.
- Na Gruta do Rei da Montanha (In The Hall of The Mountain King), de Peer Gynt, de Edvard Grieg.
- Abertura – “Guilherme Tell”, (Guillaume Tell – Overture), de Gioacchino Rossini.
- O Voo do Besouro, (The Flight of The Bumblebee, da ópera O Conto do Czar Saltan) de Nikolai Rimsky-Korsakov.
- Abertura – “O Barbeiro de Sevilha”, (The Barber of Seville – Overture), de Gioacchino Rossini.
- Pedro e O Lobo, (Peter and The Wolf) de Sergei Prokofiev.
- Toreador – “Carmen”, (Carmen Suite No.1 – “Les Toreadors”), de Georges Bizet.
- Música Aquática, (Water Music), de Georg Handel.
- Cânon em ré maior, (Canon in D), de Johann Pachelbel.
- Guia de Orquestra Para Jovens (Young Person’s Guide to the Orchestra), de Benjamin Britten.
- Sinfonia nº 5, de Wolfgang Amadeus Mozart.